Nossa
missão é
somar sempre

Procura por auditoria cresce 30% com nova lei

Cynara Escobar Grandes firmas de auditoria, como PricewaterhouseCoopers e Ernst & Young já sentem demanda até 30% maior nas consultas geradas com a nova regulamentação na área contabilista, de temas como o registro dos intangíveis no balanço, e uma série de normas que serão regulamentadas até o fim do ano. O registro de intangíveis, que é tema já abordado no âmbito internacional em processos de due diligence (auditoria) de fusão e aquisição, começa a ganhar força no Brasil com a adoção do padrão contábil internacional. "Todas as empresas abertas que tenham feito alguma aquisição irão enfrentar esta questão. Estamos nos preparando para um aquecimento importante", comentou Raul Beer, líder de Finanças Corporativas da PricewaterhouseCoopers. Na Ernst & Young, as incertezas sobre os impactos das mudanças nos resultados das empresas têm gerado maior demanda para a área contábil, pois pedem consultoria do cálculo de valor presente existente nas demonstrações. "A demanda está muito alta, aumentou cerca de 30%, tanto de clientes como de empresas que não são clientes. Todos estão preocupados porque a lei traz muitas mudanças e é preciso uma norma para entendê-las. O CPC tem uma agenda grande de normas até o fim do ano e ainda nem 20% delas foram emitidas", observa Paul Sutcliffe, sócio da Ernst & Young, que por conta disso viu a demanda por consultoria crescer. "É necessário mudar muita coisa na empresa, pessoas, processo, a área de Relações com Investidores, porque muda a relação de lucro para a empresa." Para Sutcliffe, a falta de normas claras sobre a nova legislação pode fazer com que as empresas simplesmente copiem os padrões adotados em outros países, como o US GAAP (Generally Accepted Accounting Principles, as normas adotadas nos Estados Unidos). "A falta de uma norma que explique a contabilidade pode gerar demonstrações diferentes dentro do mesmo setor", diz. "O fechamento de balanços de 2008 vai ser interessante", opina. Intangíveis A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) encerraram a consulta pública sobre o tema na segunda-feira, dia 15, o que explica a demanda. Além disso, diante de um cenário de negociações mais complexas no mercado, aumenta a necessidade de conhecimento contábil e de medição dos riscos internos das companhias, gerando trabalho para as auditorias. "Quando o grande valor da compra são os intangíveis, é preciso negociar preço, processo de transição, contingências [problemas na justiça por conta de reclamações trabalhistas, passivos de impostos etc]. Por isso, ao finalizar o processo [de aquisição], registramos na contabilidade e oferecemos relatórios que mostram o valor das aquisições, para suporte à contabilização", sublinha o especialista em Finanças Corporativas da Price, Fábio Niccheri. Segundo especialistas, a Lei nº 11.638 se inspira nas práticas contábeis americanas (US GAAP), que consideram os ativos fixos e intangíveis em processos de aquisição. Os critérios contábeis prevêem que as empresas terão de contabilizar os intangíveis no balanço, como, por exemplo, marcas que foram compradas. "90% do valor de uma empresa atualmente é representado por ativos intangíveis, e valores de marcas adquiridas passarão a ser contabilizados nas demonstrações financeiras", aponta Beer. Outra questão é a relevância do cenário brasileiro para a análise de risco de contingências. Segundo Beer, o número de impostos e a dificuldade de calculá-los, considerando diferentes legislações estaduais e as mudanças freqüentes nas leis brasileiras, trazem dificuldades às empresas na parte tributária e contábil. "Além disso, existem empresas que em algum momento da sua vida tiveram um período informal, o que aumenta o número de contingências", diz. A análise de intangíveis pode levar as empresas a um processo de autoconhecimento e a criar nova oportunidade de geração de receitas, opina Pierre Moreau, da Moreau Advogados. "O ajuste das empresas às normas contábeis está fazendo elas se conhecerem melhor, pois estão olhando mais para si mesmas. Elas percebem que têm ativos, como patentes, conhecimentos, que elas não estavam utilizando. Isso é um lado muito favorável das normas." Outro ponto positivo é o custo mais visível. "Hoje a norma manda abrir o investimento de produto a produto. Ao fazê-lo, sei minha expectativa de receita", diz. Para ele, o desafio está na capacidade das empresas de transformar conhecimentos em receitas. "Ao atribuir o potencial de uma determinada atividade, cria-se um choque de realidade para o gestor, porque ele começa a perceber o resultado financeiro do investimento que ele fez. O outro lado é criar uma ilusão de que as empresas serão melhores do que são."

Newsletter