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Mercadinhos de bairro ganham fôlego no pós-pandemia

Idas às lojas passaram a ser mais frequentes para 38% dos consumidores e a principal razão é a proximidade, de acordo com sondagem feita em setembro pelo Sincovaga. Euclides Fiuza( foto), dono de mercadinho em Itaquera, afirma que seu faturamento aumentou 30% depois da pandemia

A expansão das grandes redes de supermercados, e mais recentemente no modelo express, nos faz crer que os tradicionais mercadinhos de bairro tenderiam a sumir de vez do mapa.

Afinal, geralmente eles são tocados por micro comerciantes, com zero poder de barganha com os fornecedores e sem recursos para agregar serviços e as tais experiências para os clientes.

Pesquisa feita pelo Sincovaga, sindicato que os representa, mostra que, após a pandemia, esses pequenos estabelecimentos estão exatamente na contramão de todos os maus prognósticos.

Para 78% dos consumidores ouvidos na cidade de São Paulo, depois da pandemia, a frequência às lojas está no mínimo igual (40%) ou maior (38%) do que em 2019.

Para 87% deles, a proximidade da casa é a grande vantagem do modelo de negócio, já que cada vez mais empresas adotam o home office ao menos alguns dias da semana.

A pesquisa também identificou que 40% dos consumidores estão comprando menos itens e 49%, mais produtos básicos, como arroz, feijão, farinha e macarrão, cada vez que vão às lojas.

“A sondagem mostrou a força dos mercadinhos, que tiraram uma parcela dos supermercados, especialmente nas linhas de itens básicos”, diz Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga.

Os mercadinhos que a pesquisa considera são aqueles que possuem, em sua maioria, até três checkouts e estão em áreas com grande densidade populacional, não tipicamente comerciais.

É bem verdade, de acordo com Furtado, que esses estabelecimentos ficaram moribundos por um bom tempo e que muitos sumiram com o avanço de lojas de grandes redes para os bairros.

“Só que em função da conjuntura atual e da política de assistência do governo, os mercadinhos, principalmente em regiões de baixa renda, estão ganhando força, sobrevida.”

De acordo com Furtado, depois da pandemia, os pequenos comerciantes aprenderam a comprar e entenderam que é o momento de trabalhar com produtos mais básicos.

“Até porque os consumidores brasileiros estão sem dinheiro, e só dá para comprar mesmo o básico. Não é o momento do iogurte”, diz.

IRMÃOS FIUZA

Euclides Fiuza da Silva, dono de um mercadinho em Itaquera, desde 1989, afirma que o faturamento da sua loja aumentou 30% depois da pandemia.

Com apenas um caixa, o minimercado Irmãos Fiuza usufrui da mudança de comportamento do consumidor, que prefere fazer compras menores, mais vezes por semana e perto de casa.

“Os mercadinhos se transformaram numa grande opção, até porque existe uma relação de confiança com os clientes, que mandam até as crianças buscarem os produtos”, diz.

Silva não consegue precisar a quantidade de itens na sua loja, mas garante que qualquer produto básico das linhas de alimentos e produtos de higiene e limpeza o cliente encontra ali.

Fábio Pina, assessor econômico do Sincovaga, coordenador da sondagem, afirma que conveniência tem um custo que se paga pela proximidade.

“E, no caso de itens básicos, a variação de preço costuma ser menor, o que tem ajudado a aumentar as idas aos mercadinhos”, diz.

A queda da inflação e a melhora na logística de abastecimento, de acordo com Pina, contribuíram também para reduzir a diferença de preços entre grandes redes e pequenas lojas.

“Com a pandemia, o mercadinho de bairro foi reapresentado para o consumidor. Agora, o que não pode acontecer é abuso de preços, se não volta a perder espaço”, diz o economista.

A sondagem do Sincovaga também constatou que os clientes, quando não compram em lojas de vizinhança, optam mais por atacarejos (41%) e supermercados (40%).

Os hipermercados aparecem com uma preferência menor (15%).

Na pesquisa anterior, realizada em abril, a preferência se dividia entre hipermercados (29,4%) e supermercados (24,7%), depois dos mercadinhos, que já eram os preferidos (31,8%).

Os Irmãos Fiuza, de acordo com Silva, têm nas proximidades dois concorrentes de peso, o Assaí, que fica a cerca de um quilômetro, e o Atacadão, a cerca de dois quilômetros.

“Mas não tenho problema com movimento e isso porque estou próximo de uma comunidade e tento manter os preços próximos aos dos grandes, mesmo que tenha de reduzir margens”, diz.

Uma vez por semana Silva faz compra de alguns produtos no Atacadão e consegue que algumas indústrias façam entregas diretamente em sua loja.

“Coloco uma margem de cerca de 30% a 35% e, às vezes, até menor”, diz.

Com um faturamento da ordem de R$ 50 mil por mês, ele se orgulha de manter o negócio em pé, que nasceu de uma sociedade com o irmão, já falecido, em um terreno próprio.

“Começamos com uma dúzia de sabonetes, uma dúzia de creme dental e dez latas de sardinhas e conseguimos chegar até aqui”, afirma.

Parte da experiência em supermercado ele trouxe de uma loja do Jumbo-Eletro, que pertencia ao grupo Pão de Açúcar, na Casa Verde, onde trabalhou por nove anos, a partir de 1982.

Hoje, o sócio é o sobrinho, filho do irmão falecido. As esposas dos dois também trabalham no mercadinho, além de três funcionárias.

Todos os dias às 6h30, diz, já tem meia dúzia de pessoas esperando na porta para entrar na loja atrás dos cem pãezinhos já prontos para vender. Por dia, a loja comercializa 1,2 mil pães.

No começo, diz ele, os primeiros clientes vinham com os filhos no colo. Hoje, são exatamente esses filhos que chegam à loja com os filhos no colo.

Tudo indica que os mercadinhos continuarão tendo bom desempenho até o final do ano.

Para 72% dos consultados na sondagem do Sincovaga, a economia vai ficar igual (24%) ou melhorar (48%) neste ano.

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