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Traduzindo para uma linguagem menos acadêmica: Landell inventou o rádio, em 1893, fato completamente ignorado pelos livros de história, inclusive os do Brasil
O que há em comum entre Santos Dumont (1873-1932) e um desconhecido padre chamado Landell de Moura (1861-1928)? Não, não é desgosto pela vida - ao contrário de Dumont, que, abalado por uma depressão, se suicidou aos 59 anos, Landell só deixou de viver aos 67 anos, vitimado por uma tuberculose. O que aproxima os dois personagens é a importância de suas criações e, principalmente, a absoluta falta de traquejo para transformar suas invenções em grandes negócios, uma característica que parece acompanhar uma parte dos inventores brasileiros. Apesar de ter entrado para a história brasileira como o "O Pai da Aviação", Dumont nunca teve sua paternidade reconhecida no Exterior (creditada aos irmãos Wright) e, é bom que se diga, nunca lutou por ela. O caso de Landell é ainda mais curioso. Ele foi o primeiro cientista a conseguir a façanha de transmitir o som por meio de ondas eletromagnéticas.
Traduzindo para uma linguagem menos acadêmica: Landell inventou o rádio, em 1893, fato completamente ignorado pelos livros de história, inclusive os do Brasil. Por aqui, todos associam o invento ao cientista italiano Guglielmo Marconi.
Padre e cientista dedicado, Landell sempre teve dificuldade em conciliar as duas atividades - foi tachado de louco por setores mais conservadores da igreja. Alguns fiéis chegaram a destruir seus aparelhos por acreditar que ele usava seus inventos "para se comunicar com o diabo". Se nascesse nos Estados Unidos e não dedicasse metade de seu tempo à religião, Landell faria fortuna. Muitos inventores de seu gabarito entraram para a história como grandes empreendedores. O caso mais emblemático talvez seja o de Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, do gramofone e de mais 1.300 patentes, um dos primeiros cientistas a aplicar os princípios da produção em série ao processo de invenção. Edison fundou, em 1888, a Edison General Electric, que se tornaria um dos maiores conglomerados industriais do planeta, conhecida hoje apenas como GE.
Por que, enfim, casos como o de Edison não se repetiram no Brasil? Seriam três os motivos. Primeiro, a falta de apoio oficial. Landell, em busca de reconhecimento, foi solenemente ignorado pelo então presidente Rodrigues Alves - e essa postura das autoridades ainda se mantém viva. Segundo, a pouca importância geopolítica do Brasil, na época um país de pouco prestígio econômico - hoje essa situação pouco se alterou. E, finalmente, a falta de empenho dos próprios inventores brasileiros, cuja criatividade, em geral, não é acompanhada de procedimentos básicos, como, por exemplo, o patenteamento de suas criações. Pena que Landell não viveu para assistir a outro inventor, Andréas Pavel, alemão criado no Brasil, ganhar recentemente um processo contra a Sony Music e ser reconhecido como o criador do walkman. Pavel irá receber da multinacional uma indenização de US$ 10 millhões. Essa dinheirama o deixará milionário, mas é pouco perto do que poderia ter faturado se patenteasse sua invenção - e aí reside o problema do inventor brasileiro.