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O consumidor aposta suas fichas no futuro da economia

A confiança do consumidor começa a dar sinais de melhora, com tendência de alta nos próximos meses.

Fonte: Diário do ComércioTags: economia

Carlos Ossamu

A confiança do consumidor começa a dar sinais de melhora, com tendência de alta nos próximos meses. Ainda há o receio de se comprometer com dívidas e a preferência, no momento, é por compras de baixo valor, com pagamento à vista. Esta é uma das conclusões da pesquisa de maio do Índice Nacional de Confiança (INC), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e do Instituto Ipso.

Foram entrevistadas mil pessoas de 70 cidades do País. Segundo explica o economista Emílio Alfieri, do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP, o índice de maio atingiu 120 pontos, interrompendo uma sequência de cinco meses de queda: “Não é um número significativo, pois houve um crescimento de apenas um ponto, já que em abril estava em 119, mas o índice parou de cair. O consumidor ainda está desconfiado e inseguro, mas está mais otimista para o futuro”. Os pontos variam de 0 a 200 e acima de 100 demonstra otimismo.

Segundo o economista, a pesquisa é feita com pessoas comuns e não especialistas: “É perguntado, por exemplo, se ela conhece alguém que perdeu o emprego recentemente, se sente à vontade agora para comprar um eletrodoméstico e fazer um crediário, se a sua situação agora é melhor do que há seis meses, se a situação econômica na região está melhor ou pior, etc.”, comenta Alfieri, lembrando que em dezembro de 2008 esse número estava em 145, caiu para 142 (janeiro), 129 (fevereiro), 121 (março) e 119 (abril).

O estudo tem abrangência nacional. Quando dividido por regiões, ele aponta que o Nordeste e o Sul são as menos otimistas, com 101 pontos. A mais otimista é o Sudeste, com 137 pontos, seguido das regiões Norte/Centro-Oeste com 128 pontos. Já por classes sociais, as classes A/B registraram em maio 110 pontos; a classe C, 125; e as classes D/E, 119 pontos. Portanto, nota-se que a classe C é a mais otimista, enquanto as classes A/B, por serem as mais bem informadas, são as menos otimistas.

Para Alfieri, os dados do INC são coerentes com os números apurados nos serviços SCPC, que medem as compras a prazo, e SCPC Cheque, para comprar à vista: “Na Capital, a primeira quinzena de junho revelou que as consultas no SCPC Cheque aumentaram 9,3%. Já no SCPC, que envolvem compras com valores maiores, as consultas caíram 12% no mesmo período. As pessoas ainda estão cautelosas, evitando fazer dívidas. Por outro lado, se nada de extraordinário ocorrer na economia, que no mundo todo está em recuperação, essa confiança vai crescendo e já há uma demanda reprimida, que poderá estourar mais para o fim do ano. O perigo é haver um aumento na demanda que eleve a inflação”.

Para os micros e pequenos empresários, principalmente, o conselho de Alfieri é que se preparem para um aquecimento da economia para os próximos três ou seis meses: “Ainda é um período de cautela, em que os empresários devem ter cuidados com o caixa, evitar buscar financiamentos e ter pouco estoque. Mas a situação deverá melhorar nos próximos meses”.

Números semelhantes

A Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) também divulgou sua pesquisa sobre Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de junho, que registrou uma alta de 8 pontos - atingiu 134,5 contra 125,73 de maio. O indicador varia numa escala de 0 a 200 pontos, indicando pessimismo abaixo de 100 pontos e otimismo acima desse patamar.

"O aumento pelo terceiro mês consecutivo do indicador representa que a população paulistana mantém uma percepção positiva em termos de confiança, indicando continuidade da tendência à recuperação gradual. Essa elevação é relevante também para garantir um período um pouco melhor para as vendas do comércio", afirma Thiago Freitas, economista da Fecomercio.

Segundo Freitas, a perspectiva de melhoria baseada no gradual arrefecimento inflacionário, expectativa de baixa na taxa de juros, aumento das concessões de crédito para o consumidor, assim como as seguidas ações pontuais do governo no sentido de expandir a atividade econômica, têm influenciado positivamente a percepção dos consumidores paulistanos: "O nível de atividade está sujeito aos ciclos de crescimento econômico e eles condicionam a confiança do consumidor. Logo, a evolução favorável do poder de compra do consumidor e a volta do crédito para aquisição de determinados bens foram fundamentais para reforçar suas percepções positivas sobre a economia".

A análise mais detalhada dos dados que compõem o ICC aponta para esse diagnóstico. De acordo com a pesquisa, tanto o Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), que avalia a situação presente, quanto o Índice das Expectativas do Consumidor (IEC), que indica a percepção do consumidor quanto ao futuro, tornaram-se bem mais otimistas em junho. O ICEA apresentou alta de 7,1%, registrando 125,7 pontos. Esse indicador está diretamente relacionado com a percepção que o consumidor faz sobre sua segurança em termos de emprego e renda. "Por se tratar de um indicador tipicamente de curto prazo, o mais relevante é a análise na margem, ou seja, o consumidor parece acreditar que o pior pode ter passado".

No que diz respeito à segmentação por faixa etária, a análise aponta que a confiança em relação à situação presente por parte dos consumidores com menos de 35 anos aumentou em junho, registrando uma variação de 9%, chegando a 130,1 pontos. Os paulistanos com 35 anos ou mais elevaram suas avaliações em 3,1%, atingindo 119,2 pontos.

Já o IEC, analisado por renda, destacou os paulistanos com renda superior a dez salários mínimos. Freitas explica que os consumidores com essa faixa de renda geralmente têm maior acesso à informação e melhores condições para uma avaliação mais pontual, portanto, apresentaram um aumento de confiança substancial de 15,6%, chegando 168,7 pontos.

De acordo com o IEC, os paulistanos com 35 anos ou mais, que já vivenciaram diversos desequilíbrios econômicos, também elevaram suas expectativas em relação ao futuro da economia em 4%, atingindo 136,4 pontos. "Esse otimismo pode ser explicado pela crença dos consumidores de que os desdobramentos da atual conjuntura macroeconômica não serão negativos", afirma Freitas.

Quanto ao cenário internacional, nos últimos três meses, já se observa sinais de melhoria na economia mundial. Exemplo disso é a confiança do consumidor nos Estados Unidos (CCI - Consumer Confidende Index), apurado pelo Conference Board, que cresceu 34,5 % atingindo 54,9 pontos em maio, principalmente puxado pelas expectativas futuras. Os resultados da confiança externa, principalmente do consumidor e do empresário americano, são fundamentais para balizar as expectativas internas, dado que o epicentro da crise é o sistema financeiro americano.

Indústria otimista

Uma outra pesquisa que acaba de ser divulgada é a da Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamada Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC), que entrevistou 2.002 consumidores de 143 municípios do País. Depois de ter caído dois trimestres seguidos, o índice cresceu 3,7% em comparação aos três primeiros meses do ano e praticamente constante em relação ao segundo trimestre de 2008.

Segundo a pesquisa, o crescimento do INEC deve-se, em grande medida, à melhora significa­tiva das expectativas em relação ao desemprego e à inflação. O índice de expectativa de inflação registrou crescimento de 11,2% na comparação com o primeiro trimestre de 2009 e de 9,9% na comparação com o segundo trimestre de 2008.

O aumento no índice de expectativa de desemprego foi ainda maior (17% na comparação com o primeiro trimestre). O crescimento, contudo, não foi suficiente para compensar a queda desde o terceiro trimestre de 2008: o índice segue 1,8% abaixo do índice do segundo trimestre de 2008 e 8,6% abaixo do índice do terceiro trimestre daquele ano.

A expectativa de evolução da renda pessoal, por sua vez, segue estável. O índice mostrou queda de 0,4% na comparação com o último trimestre e crescimento de 0,6% na comparação com o mesmo trimestre de 2008. Ressalte-se que o índice mantém-se em patamar elevado, considerando-se sua média histórica. Já o índice de endividamento aumentou 3,4% na comparação com o primeiro trimestre, o que denota redução no endividamento dos consumidores.

Apesar da melhora na questão do endividamento, a situação financeira dos consumidores ficou praticamente estável, mas manteve sua tendência de piora. O índice de evolução da situação financeira recuou 0,6% na comparação com o trimestre anterior, a terceira seguida nesta comparação, acumulando recuo de 5,9% desde o terceiro trimestre de 2008.

A melhora na confiança ainda não deve se traduzir em crescimento de compras de bens de maior valor. Mesmo com os incentivos pontuais oferecidos pelo governo federal, o índice que reflete as perspectivas de compras de maior valor no trimestre registrou aumento apenas marginal, de 0,2%, na comparação com o trimestre anterior e queda de 2,2% na comparação com o segundo trimestre de 2008.

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