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Pelo menos dois anos de incertezas

Fonte: Correio Braziliense
Luciana Navarro Estragos da crise empurrarão economias mais ricas para a recessão Apesar do pacote de resgate dos bancos americanos, que custará US$ 700 bilhões aos contribuintes dos Estados Unidos, estar praticamente aprovado pelo Congresso daquele país, as incertezas quanto ao futuro da economia mundial devem persistir por um bom tempo. São evidentes os sinais de recessão nas regiões mais ricas do planeta — EUA, Japão e Europa — que já se debatem com desemprego crescente, inflação latente e juros altos. Para piorar, a China, que poderia ser um importante contraponto a essa debilidade, dá sinais de perda de fôlego, a ponto de dois dos economistas mais respeitados do mundo, Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, e Keneth Rogoff, da Universidade de Harvard, preverem expansão entre 6% e 7% para a economia chinesa em 2009. Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o primeiro impacto causado pelo pacote americano será de otimismo no mercado internacional. Segundo ele, já se sabe que o Congresso terá maior controle das ações do governo para salvar as instituições financeiras atoladas em créditos podres, mas continua a incógnita de quais títulos deverão ser comprados pelo governo americano e qual valor deve ser pago por eles. “Esse assunto não foi esclarecido ainda, o que mostra que serão mais dias de incertezas”, diz. “Estaremos entregues aos acontecimentos das próximas semanas”, acrescenta Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. Sem euforia Ambos os economistas dizem que os estragos provocados pelo estouro da bolha imobiliária americana devem levar pelo menos dois anos para serem digeridos. O que se viu até agora, ressaltam, foi uma crise financeira. A partir do socorro aos bancos americanos, o problema passará a ser a economia real, que foi contaminada pelas loucuras cometidas pelos consumidores e bancos dos EUA. A quebradeira de bancos americanos e em outras partes do mundo provocou uma onda de desconfiança, que fez secar o crédito. E não será da noite para o dia que as portas para os financiamentos vão se abrir. “De qualquer forma, o pacote de US$ 700 bilhões dará um alívio no curto prazo”, afirma Padovani. A seu ver, a grande volatilidade registrada pelos mercados nos últimos dias deve diminuir. “O anúncio do socorro e as mudanças anunciadas pelo Congresso no funcionamento do sistema financeiro americano na semana passada vão ajudar a controlar o pânico dos mercados”, ressalta. “A tendência é de recuperação e de valorização de ativos. Mas sem euforia nos mercados”, completa, prevendo crescimento de apenas 3,5% para a economia mundial em 2009, quando os efeitos da crise ficarão mais claros, ante os 5% dos últimos anos. A redução no crescimento da economia global não será nenhum desastre, acredita Lima Gonçalves, do Banco Fator. Mas já será suficiente para reduzir a demanda por produtos exportados pelo Brasil, especialmente as commodities, matéria-primas com cotação internacional. O lado bom disso é que os preços dos alimentos e do petróleo tendem a diminuir, aliviando a inflação. FMI quer controle Depois de um silêncio que deixou muitos analistas perplexos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) usou o pacote de socorro de US$ 700 bilhões do governo dos Estados Unidos para entrar no debate da crise internacional. E veio com um pedido: o de obter um mandato para articular uma ampla reforma no sistema financeiro mundial. Para isso, a cúpula da entidade tem mantido conversas freqüentes com governos e bancos centrais dos países mais ricos, na tentativa de convencê-los da necessidade de repensar o atual modelo e até estabelecer um novo marco regulatório para o sistema. O Fundo defende a reforma, com controles mais rígidos, para evitar que crises como a que hoje afeta o mundo voltem a ocorrer. “Os políticos podem injetar dinheiro público para que o edifício financeiro não seja derrubado, pois é a estabilidade de nossas economias que está em jogo. Mas, logo, precisamos reformar. Caso contrário, a idéia que parecerá é de que se trata de um poço sem fundo, de Estados que voam para salvar administradores incompetentes e especuladores estúpidos”, disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, em entrevista publicada nesse fim de semana no Journal de Dimanche, da França. Tóquio abre em alta O fechamento do pacote de US$ 700 bilhões para socorrer bancos nos Estados Unidos fez com que os mercados acionários asiáticos abrissem a segunda-feira em alta. Mas ainda é grande a expectativa dos investidores quanto à aprovação do socorro pelo Congresso americano. Na Bolsa de Valores de Tóquio, o índice Nikkei computava elevação de 0,80% até o fechamento desta edição. Para Masayoshi Okamoto, operador da Jujiya Securities, a ajuda do governo dos EUA aos bancos é importante, pois dará um conforto maior aos agentes de mercado. Mas, para ele, é preciso que as regras do pacote fiquem bem claras e que não surjam surpresas desagradáveis no meio do caminho, como a quebra de outras instituições financeiras. Da Inglaterra, veio a boa notícia de que o banco espanhol Santander comprará parte das operações da instituição britânica Bradford & Bingley, que está à beira da falência.

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